terça-feira, 15 de setembro de 2009

O último crepúsculo ou o encontro com a paz


Verão de 1991, lá estava eu frente a frente com a morte, o sol se despedia de mim com um lindo pôr-do-sol, a brisa quente tocava minha pele como me abraçando em uma despedida, muitas coisas passaram pela minha vida e agora eu só queria passar da vida para minha morte.

...Carnaval de 1991, conheci uma linda garota, cabelos ruivos, olhos cor de mel, corpo escultural como uma ninfa grega.

O envolvimento foi inevitável algo me prendia a uma paixão doentia, insaciável e incontrolável, cada vez que fazíamos amor era como um sonho onde não havia limites.Porém o carnaval acabou e o amor também.

Nos primeiros meses não percebi a falta que ela me fazia, não fora apenas do sexo que sentia falta mas também da pele, dos seus toques, dos carinhos e de sua voz; pelo o pouco que conversamos senti que tínhamos muitas coisas em comum, mas o ser humano realmente só dá valor ao que se conquista quando perder. Como podia deixá-la ir sem nem ao menos ter o meu telefone?

No outono quando as folhas caíram, eu também caí. Sentia o vazio inexplicável e independente do que eu fazia, comprava, usava e independente das garotas com que eu dormia o vazio não se preenchia.Como pude deixar o instinto prevalecer acima do sentimento?

Mas o pior estava por vir no inverno. Nessa estação eu não teria apenas caído mas chegado ao fundo do poço, meu desejo era de apenas ficar sozinho, tinha a sensação de que o mundo conspirava contra mim, meu fracasso e minha impotência diante do fato dela não ter ficado ao meu lado após o carnaval.

A primavera foi se aproximando e a minha depressão foi aumentando, não tinha vontade de comer, de sair, de me divertir, cheguei ao ponto de faltar tanto ao trabalho que fui demitido. A partir daí minha depressão deixava de ser algo intimamente meu e se tornou algo público, meus pais tentaram de todas as formas me animar me apresentando a novas mulheres tentando fazer com que eu saísse de qualquer forma de casa, mas nada disso adiantava.Só tentei mudar a situação ao ver minha mãe chorando, implorando aos céus para que eu melhorasse, então disse a ela para que me arranjasse um psicólogo.

A consulta foi marcada para o dia 23 de dezembro, primeira segunda-feira do verão, a consulta era com uma doutora chamada Jaqueline Tamandaré.No dia da consulta acordei com um estranho frio na barriga, como se minha barriga fosse cortada, aberta e colocassem uma brisa gelada do inverno.

Ao chegar no consultório senti um cheiro familiar, era o cheiro dela, eu tinha certeza, ela estava ali, procurei por ela no rosto de todas as mulheres que estavam na sala de espera mas não encontrei apenas o cheiro estava lá.

Depois de meia hora esperando finalmente ia ser atendido, conforme eu ia me aproximando da porta o cheiro iria aumentando, não podia acreditar que a ironia do destino seria tão grande a ponto dela que foi a causadora do meu problema ser a minha grande salvação.

Quando abri a porta meu coração saltou pela boca, pois agora coração, olhos e nariz tinham a certeza que era ela, a única reação que tive foi de a abraçar e dizer que a amava, ela olhou assustada pelo jeito não me reconheceu, mas eu lhe perguntei sobre onde ela passou o carnaval e pouco a pouco ela foi lembrando de mim, porém quando ela disse ter lembrado de mim a reação dela não foi a esperada, ela não se desmoronou em lágrimas como os temporais do verão e sim se tornou fria como as manhãs de inverno, lhe contei tudo sobre o que tinha passado por ela, que senti falta dela, e que percebi que nós tínhamos uma ligação, que eu só estava ali ‘graças’ a falta que ela me fez, mas mesmo com todo o calor do meu amor eu não conseguia descongelar a geleira que estava perante a mim.Então perguntei a ela sobre o que havíamos passado e recebi a resposta de que aquilo não foi nada de mais e que aquele carnaval seria como uma despedida de solteiro pra ela e que ela já está até casada e aquilo que tivemos era nada mais nada menos do parte da despedida, naquele momento a geleira se desmoronou sobre mim, o sangue parou de circular pelo meu corpo e o frio tomava conta de mim, o vazio que eu tinha se tornou em um buraco negro que estava me corroendo e me diluindo de dentro pra fora, meu único impulso foi de levantar e correr em direção ao elevador, desci ao estacionamento entrei no meu carro e fui direto pra minha casa, no caminho fui admirando o lindo começo de pôr-do-sol , o céu estava alaranjado com pintas azuis algo completamente psicodélico e lindo, aquela era minha despedida já existia nada dentro de mim, nem eu mesmo existia dentro de mim, era como se a luz estivesse acessa mas ninguém estivesse em casa.

Estacionei o carro cumprimentei o porteiro subi pro meu apartamento, me sentei no sofá mas rapidamente me levantei voltei pro elevador e subi ao terraço dali a visão era linda o sol finalmente estava se despedindo e a noite estava adentrando a terra, repito a visão era linda subi em cima do para-peito e lá estava eu frente a frente com a morte, o sol se despedia de mim com um lindo pôr-do-sol, a brisa quente tocava minha pele como me abraçando em uma despedida, muitas coisas passaram pela minha vida e agora eu só queria passar da vida para minha morte.

2 comentários:

  1. Hmmm, poderia dizer apenas: "GAY". Talvez por réplica, pra quando eu acho um texto meu super legal e você desmoraliza ele. Mas não, rs. Não é sempre que você tá inspirado pra escrever e, realmente, escreve bem.

    Aos poucos eu fui levado para uma vida que não é a minha, numa década que não é a nossa, num amor que não existe. Mas pelo tempo que meus olhos ia devorando as palavras, sim, essa era a minha vida, a minha década e o meu amor. E decorrente disso tudo, o meu sofrer.




    "...lá estava eu frente a frente com a morte, o sol se despedia de mim com um lindo pôr-do-sol, a brisa quente tocava minha pele como me abraçando em uma despedida, muitas coisas passaram pela minha vida e agora eu só queria passar da vida para minha morte."

    Uma vez, alguém, muito importante, me disse que: "Se desejamos sair da vida é por quê o sofrimento é tanto que já não cabe dentro de nós". Imaginei o sofrer dele tão imenso, que fez parte do crepúsculo que o abocanhou.

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  2. Olá! te deixei um selo no meu blog =)

    Beijo!

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