terça-feira, 21 de abril de 2009

A história do cara que sempre chega atrasado


"O mundo se divide entre os que encontram e os que nem sabem onde puseram." - Millôr Fernandes

Era uma vez um cara que sempre chegava atrasado. E assim ele foi por toda a vida. No colégio, sempre perdia a hora e chegava pra segunda aula. Na época do cursinho ele muitas vezes nem chegava. Veio a faculdade e, mesmo habitando uma república a cinco minutos de onde estudava, o infeliz aportava por lá no intervalo.

Aniversários dos amigos e sempre dá parabéns no dia seguinte ou na iminência da meia-noite. Isso sempre foi um problema com as namoradas, já que só pensava em fazer alguma coisa nas datas comemorativas a cinco minutos do encontro. Mesmo nos feriados, programa viagens e passeios na véspera, o que quase nunca dá certo.

"Chegar atrasado é típico de quem quer fugir de qualquer responsabilidade", diz sua mãe.

"Você precisa se organizar mais", insiste seu chefe.

"Isso é coisa de quem toma cerveja do jeito que você toma", praguejam quase todos que conhece.

Um dia, ele chegou atrasado quando não podia. Ou foi seu coração que fez isso com ele, sabe lá. Ou o inconsciente. Ou o subconsciente. Talvez ele estivesse simplesmente fugindo da raia, tal qual o conceito de atraso de sua genitora.

Mas isso é hipótese e aqui não é espaço pra tratado científico. O caso é que um dia ela apareceu. Só que essa materialização não faz tanto sentido, uma vez que ela sempre esteve por perto. Isso deu um curto circuito na cabeça do cara que sempre chega atrasado. Como se atrasar para algo que estava por ali o tempo inteiro?

Pois bem, aqui ele se superou e conseguiu atingir um novo patamar. Atrasou-se para algo que já acontecia.

Contra os ponteiros do relógio, a única saída pra consertar os efeitos do despertar com a chegada de quem sempre esteve por perto é parar o tempo. E isso é impossível.

Pelo menos é o que dizem os especialistas que não foram consultados por esse blog.

De ombros pras estatísticas, nada tira a sensação do cara que sempre chega atrasado de que ontem à noite o tempo parou por alguns segundos. De repente foram as palavras bêbadas e inesperadas que causaram essa impressão, ou a despedida desastrada e meio amargurada, mas fofa. Pode ser que tenha sido só impressão. O certo é que ele gosta de acreditar nisso.

Mal não faz.

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